Altos custos e baixa previsibilidade desafiam competitividade do agro brasileiro

As estratégias para manter o Brasil competitivo no cenário global de altos custos foram abordadas durante o segundo painel do Agro World Fórum 2025, intitulado “Competitividade no campo: estratégias para produzir e exportar em cenário de altos custos”, o evento foi realizado na terça-feira (21) no Hotel JP Ribeirão Preto.

O segundo debate moderado por João Pedro Cury, CEO do Grupo Santa Clara Agrociência, reuniu grandes nomes do setor como José Augusto Prado Veiga, CEO da Usina Açucareira Guaíra, João Carlos Marchesan, Primeiro Vice-Presidente do Conselho de Administração da ABIMAQ, Maurílio Biagi Filho, Presidente do Grupo Maubisa e de Honra da Agrishow, e Sérgio Bortolozzo, presidente da Sociedade Rural Brasileira (SRB).

Em meio a preocupações com juros altos, infraestrutura precária e falta de políticas industriais, os painelistas do 2º painel concordaram em um ponto: o agro e a indústria brasileira seguem competitivos pela força da tecnologia e da gestão, mas enfrentam um ambiente econômico que desestimula o investimento e limita o crescimento.

O primeiro a falar, João Carlos Marchesan, da ABIMAQ, foi contundente ao descrever o chamado Custo Brasil como o principal entrave à competitividade.

Segundo ele, a indústria de máquinas agrícolas é capaz de atender desde o pequeno até o grande produtor com tecnologia comparável à dos países mais avançados — mas carrega um peso tributário e estrutural insustentável.

“Temos tecnologia de ponta e somos referência em agricultura tropical, mas enquanto o custo de produção em fábrica é igual ao de países da OCDE, o produto sai 30% mais caro daqui para o mercado. É o custo Brasil — juros altos, encargos sociais, impostos e transporte caro”, afirmou Marchesan.

Ele destacou ainda a urgência de reformas estruturais: “Precisamos investir 25% do PIB para crescer de forma contínua. Falta planejamento de nação. O que o país precisa é constância de investimento, e isso só virá com uma reforma administrativa e fiscal séria.”

Representando o setor sucroenergético, José Augusto Prado Veiga, CEO da Usina Açucareira Guaíra, ressaltou os efeitos combinados do custo Brasil e da alta dos juros sobre empresas que investiram em inovação e novos combustíveis.

“Aqueles que apostaram em etanol 2G, SAF e biogás enfrentam agora um cenário de sobrevivência. O país fala em transição energética, mas o custo elevado e a falta de políticas coerentes travam o protagonismo brasileiro”, criticou.

Veiga defendeu o etanol como uma alternativa mais sustentável que o carro elétrico, enfatizando que o Brasil tem “a matriz energética mais limpa do mundo”.

“Enquanto importamos veículos elétricos movidos a energia térmica, deixamos de exportar tecnologia e sustentabilidade. O país corre o risco de matar o Proálcool, que completa 50 anos, por falta de estratégia.”

Já o presidente da Sociedade Rural Brasileira (SRB), Sérgio Bortolozzo, rebateu a percepção de que o agronegócio é excessivamente beneficiado.

Para ele, o sucesso do setor vem da ciência e da tecnologia desenvolvidas nas últimas décadas, especialmente a partir da criação da Embrapa e da agricultura tropical.

“O agro não é subsidiado, é resultado de pesquisa, empreendedorismo e adaptação. Somos competitivos porque produzimos até três safras por ano, com tecnologia tropical única no mundo.”

Bortolozzo defendeu ainda um novo modelo de seguro agrícola que dê estabilidade à produção em tempos de mudanças climáticas, sem depender exclusivamente de subsídios governamentais.

“O seguro rural precisa de sustentabilidade financeira. Propomos ampliar a base econômica, mostrando ao produtor que uma apólice pode reduzir custos e riscos de crédito. Sem isso, é difícil garantir previsibilidade num setor cada vez mais exposto ao clima.”

Encerrando o painel, o empresário Maurílio Biagi Filho, Presidente do Grupo Maubisa e de Honra da Agrishow, trouxe uma reflexão provocadora sobre o papel do agro na sociedade e na comunicação.

Para ele, o setor precisa se unir e investir em uma estratégia nacional de imagem e esclarecimento público.

“Criamos uma fama que nos custa caro: de que somos o setor mais protegido do país. O que importa não é o que somos, é o que parecemos. Falta comunicação eficiente e coordenação institucional.”

Biagi lembrou o legado do Proálcool e criticou o foco global nos carros elétricos, que considera “um erro para o Brasil”, defendendo o biocombustível como solução mais limpa e nacional.

“O carro elétrico não é a resposta para o Brasil. O etanol é. Mas falta pressão, articulação e investimento em comunicação para mostrar isso ao mundo.”

Ele propôs a criação de um “guarda-chuva do agro”, com recursos de todos os segmentos para financiar campanhas e defesa de imagem: “Precisamos de um fundo de publicidade forte, independente e técnico. Se o agro representa metade do Brasil, precisa se comunicar como tal.”

O segundo painel do Agro World Fórum 2025 mostrou que a competitividade do campo brasileiro depende de muito mais que produtividade: exige um ambiente econômico estável, políticas de incentivo à inovação, estrutura logística eficiente e uma narrativa pública sólida.

Entre reformas estruturais e comunicação estratégica, os líderes concordaram que o agro já é competitivo, mas ainda precisa conquistar o reconhecimento e as condições para se manter protagonista globalmente.

Confira aqui como foi o primeiro debate.

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