Agricultores paulistas apostam no algodão colorido, que tem ganhado novas tonalidades

Matéria-prima que sai das lavouras do estado é usado pela indústria da moda mundial, como opção sustentável

A paisagem para quem visita uma plantação de algodão é de encher os olhos. A pluma branquinha parece espelhar as nuvens.

De alguns anos para cá, porém, tem ganhado outras tonalidades. Verde, marrom-claro, marrom-escuro, marrom-avermelhado. Variedades do algodão colorido naturalmente foram desenvolvidas e disseminadas no Brasil pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). No entanto, ele teria surgido com os povos incas, por volta de 4.500 a. C.

Inicialmente, a matéria-prima não era bem vista pelas indústrias e seu uso ficou restrito ao artesanato ou a ornamentações. A partir de 1989, a Embrapa Algodão, em Patos, na Paraíba, começou um processo de melhoramento genético em algodoeiros que haviam sido preservados em bancos genéticos de germoplasma desde cinco anos antes.

O motivo foi uma visita de empresários japoneses que ficaram interessados em adquirir a fibra com cores. Eles alegavam que o uso do algodão colorido evitava o tingimento do produto, necessário na indústria têxtil, com corantes químicos poluentes.

Contribuição econômica

No Estado de São Paulo, produtores focados na agricultura sustentável têm apostado na cultura do algodão colorido. A fibra, que pode ser misturada a outras variedades para obter diferentes tonalidades, garante ainda uma economia de até 80% de água.

Atualmente, o fio produzido pelo agro é a principal matéria-prima de 54% dos tecidos utilizados pela indústria têxtil nacional. A alta da fibra no mercado da moda aconteceu após o movimento “Sou de Algodão”, em 2016, criado para unir agentes da cadeia produtiva. A campanha ganhou força com a entrada de 1140 marcas varejistas e 67 estilistas, colocando o fio como protagonista do São Paulo Fashion Week, daquele ano.

Mas, em 2019, o setor teve o seu valor reconhecido pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), que instituiu o dia 7 de outubro como o Dia Mundial do Algodão. A data foi criada com o propósito de conscientizar a comunidade internacional sobre a contribuição da cotonicultura para a economia de muitos países emergentes e de baixa renda.

Em Riolândia-SP, o engenheiro agrônomo Diogo Lemos cultiva algodão marrom e tem como principal comprador a indústria têxtil, que, por sua vez, produz o fio para confecção de malhas e decoração de grandes marcas nacionais e internacionais do ramo da moda.

Entre as empresas que compram de Lemos, está a Bercamp, localizada em Jundiaí, que produz cortinas, tecidos para sofás e camisetas. Entre elas, uma malha ecológica de uma marca brasileira com 200 lojas físicas e que as comercializa mundialmente.

“Para manter nossa competitividade no mercado, fazemos estudos de melhoramento, que buscam selecionar características e estabelecer padrões que atendam às demandas da cadeia produtiva, como o aumento de produtividade e qualidade, adaptação ambiental e resistência a pragas e doenças”, explica o engenheiro agrônomo.

Rentabilidade

Para ser rentável, a produção de algodão colorido requer demanda, pois a cultivar necessita de manejo constante. Além disso, a fibra precisa atender às expectativas dos segmentos da cadeia produtiva, com características específicas de qualidade e uniformes para permitir o maior rendimento das máquinas com o menor custo.

Segundo o Instituto de Economia Agrícola (IEA-APTA), ligado à Secretaria de Agricultura de São Paulo, a área estimada de algodão colorido na safra 2023/24 é de aproximadamente 11,61 mil hectares, protagonizados pelas regiões de Avaré, Votuporanga e Itapeva, representando 72,7% do total do estado.

Edivaldo Cia é engenheiro agrônomo aposentado e presta serviço voluntário no âmbito da fibra colorida, no Instituto Agronômico de Campinas (IAC). Segundo ele, o estudo de melhoramento do algodão colorido teve início há pelo menos 20 anos, com o surgimento da variedade marrom, que atualmente é a mais procurada no mercado, devido à sua produtividade e a qualidade superior a outras variedades.

“Hoje existem pesquisas para obter novas cores, principalmente na tonalidade verde, marrom-clara, rubi, entre outras opções de coloração”, aponta.

A produtividade do algodão colorido no campo é aproximadamente 20% inferior ao tradicional, mas com preço para revenda quase duas vezes maior, o que torna a fibra atraente para o produtor. Cia explica que o Estado de São Paulo tem potencial para expandir a atividade. “A demanda nós podemos atender. O que falta é a procura da indústria por opções como essa”.

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