De acordo com a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), as mulheres rurais já são responsáveis por 45% da produção de alimentos em países em desenvolvimento, como o Brasil.
Esse é um dos motivos pelos quais a Organização das Nações Unidas (ONU) destaca o protagonismo feminino neste dia 15 de outubro, data em que é comemorado o Dia Internacional das Mulheres Rurais.
O principal objetivo é promover uma conscientização sobre as mulheres que trabalham em atividades ligadas ao campo, bem como fomentar a autonomia delas e o papel fundamental que exercem para garantir segurança alimentar com preservação dos recursos naturais.
Segundo o Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar (MDA), esforços têm sido dedicados à criação e fortalecimento de políticas públicas destinadas à valorização e ao empoderamento da participação feminina, como ampliação do crédito, criação e ampliação de programas específicos para elas e campanhas que buscam o reconhecimento da mulher rural como agentes de transformação econômica e social.
Entre as ações, o Pronaf Mulher ampliou para R$ 25 mil anuais os limites de empréstimos do atual Plano Safra para investimentos nas propriedades rurais, com juros de 4% ao ano.
Desafios
No Estado de São Paulo, a Secretaria de Agricultura e Abastecimento destaca o FEAP Mulher Agro SP, que busca transformar a vida de produtoras rurais.
Desde que foi lançado, em março deste ano, metade dos R$ 10 milhões disponibilizados já foi liberada, segundo o Governo Paulista, beneficiando mais de 240 mulheres. A linha, que faz parte do Fundo de Expansão do Agro Paulista (FEAP), oferece crédito para que produtoras rurais melhorem sua infraestrutura agrícola. “Há mais de R$ 1,7 milhão em andamento, que vão beneficiar mais 15 produtoras”, afirma Daniel Mirando, secretário executivo do FEAP.
Mais de 10 milhões de mulheres se dedicam à agricultura paulista, segundo o levantamento feito pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da ESALQ/USP, em parceria com a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). No entanto, essas mulheres enfrentam desafios significativos, como acesso limitado a recursos financeiros, tecnologias, além de discriminação de gênero. Muitas vezes, sua carga de trabalho é dupla ou tripla, acumulando tarefas de produção agrícola com as responsabilidades domésticas.
Estudos mostram que, quando as mulheres têm controle sobre a renda familiar, há um aumento no investimento em educação e saúde, beneficiando toda a família. “Reconhecer e valorizar o trabalho da força feminina no campo é um passo crucial para garantir um futuro mais sustentável e equitativo. Parabéns pelo seu dia e por todo o trabalho dedicado ao desenvolvimento do agro paulista”, declara o secretário estadual da Agricultura, Guilherme Piai.
Gestão
Ao longo dos anos, a presença feminina no agronegócio cresceu substancialmente, impulsionando mudanças significativas na gestão e na inovação no campo. As histórias de mulheres como Vanessa Moreno Cintra, cafeicultora no sul de Minas Gerais, e Priscila Silvério Sleutjes, engenheira agrônoma e produtora de grãos no sudoeste paulista, ilustram essa evolução. Ambas compartilham trajetórias marcadas por desafios, conquistas e uma visão clara de futuro, sempre com o uso de tecnologias de ponta para aumentar a eficiência e garantir a sustentabilidade de suas produções.
Vanessa iniciou sua trajetória motivada por um amor genuíno pela natureza. Vinda de São Paulo, ela conta que seu primeiro contato com o Café Especial, em 2017, transformou seu olhar sobre o potencial da fazenda da família. “Nunca havíamos tomado nosso próprio café. Foi aí que começou nossa jornada pela qualidade e sustentabilidade”, afirma. Desde então, ela não só elevou a qualidade do café produzido, mas também expandiu o negócio para o mercado internacional, exportando para países como EUA, Austrália e Suécia.
Priscila, por sua vez, teve uma trajetória influenciada pela família. Filha de engenheiro agrônomo, ela seguiu os passos do pai e, ao longo dos anos, foi assumindo papéis de liderança no setor, como diretora executiva da Aspipp (Associação do Sudoeste Paulista de Irrigantes e Plantio na Palha).
“Encontrei meu propósito ao representar pautas que impactam diretamente o uso da água na agricultura. Hoje, estou de volta à fazenda da família, focada na gestão de grãos e cereais irrigados”, conta Priscila, que também ocupa cargos de liderança em associações e cooperativas, além de ser a primeira mulher no conselho administrativo de uma cooperativa de crédito.
Crescimento
As dificuldades enfrentadas por mulheres rurais são muitas, especialmente em um ambiente historicamente dominado por homens. Vanessa relata que, apesar da participação feminina nos processos produtivos, muitas vezes as mulheres não são reconhecidas como líderes. “O mercado de café sempre direcionou suas vendas aos homens, mesmo quando era a mulher quem conduzia a produção”, afirma. Contudo, ela ressalta que, com o tempo, as mulheres vêm conquistando espaço e reconhecimento, principalmente pela sua atenção aos detalhes e pelo cuidado com a equipe.
Priscila reforça essa percepção, destacando que, para as mulheres serem ouvidas, é preciso ter postura e conhecimento técnico. “Infelizmente, ainda somos testadas constantemente, mas com ética e transparência, consegui conquistar respeito e reconhecimento”, explica.
Ambas percebem uma mudança positiva nos últimos anos, com o surgimento de eventos e movimentos voltados para as mulheres no agro. “Esses movimentos nos motivam a mostrar que também fazemos parte e contribuímos para o desenvolvimento do setor”, comenta Priscila.
Inovação
Entre as muitas inovações que têm transformado o agronegócio, a irrigação desempenha um papel fundamental. Tanto Vanessa quanto Priscila integram sistemas de irrigação da Netafim em suas propriedades, ressaltando a importância dessa tecnologia para garantir a sustentabilidade e a produtividade.
Para Vanessa, a irrigação é essencial na cafeicultura, trazendo estabilidade econômica ao negócio, sem comprometer o meio ambiente. “Com irrigação, podemos planejar melhor o plantio e, em algumas regiões, alcançar até três safras por ano”, afirma Priscila.
Perspectivas
O futuro para as mulheres no campo é promissor, mas ainda há muito a conquistar. Vanessa destaca o desejo de ver mais respeito pelo trabalho feminino e maior apoio por parte de profissionais e empresas do setor. “As mulheres precisam ser reconhecidas pelo valor que agregam ao agro”, diz ela.
Priscila, por sua vez, acredita que a crescente presença feminina em cargos de liderança é uma tendência que veio para ficar. “Nós, mulheres, trazemos uma visão ampla e inovadora, que agrega valor às tomadas de decisão e impulsiona o setor agropecuário para um futuro mais sustentável e colaborativo”, conclui.