A excelência de Santa Catarina e do Brasil na produção de proteína animal é um ativo de inestimável valor que deve ser constantemente preservado e ampliado.
O Estado consolidou, ao longo das últimas décadas, um status sanitário privilegiado, fruto da integração exemplar entre produtores rurais, agroindústrias e órgãos oficiais de defesa.
Esse esforço coletivo garantiu níveis de sanidade e qualidade que projetam o setor catarinense como referência mundial e sustentam a confiança dos mercados internacionais.
Ao mesmo tempo, o Brasil, enquanto potência agroalimentar, demonstra com clareza sua vocação de alimentar o mundo.
A balança comercial atesta o papel central do agronegócio, em especial da cadeia de carnes, no equilíbrio econômico nacional.
Produzimos com escala, qualidade e sustentabilidade, superando barreiras impostas por políticas protecionistas e agendas políticas que, muitas vezes, buscam limitar a livre circulação de alimentos.
A verdade é simples: comida não deveria ter fronteiras.
Quando elas são impostas artificialmente, desequilíbrios se formam, afetando consumidores e produtores.
Cumpre ao setor produtivo fazer sua parte com competência e eficiência.
Mas é igualmente necessário que a esfera política e diplomática assegure condições de acesso e manutenção de mercados, construindo pontes, derrubando barreiras e fortalecendo relações comerciais.
O potencial de protagonismo do Brasil nessa agenda é imenso, mas depende de decisões estratégicas que ultrapassam a porteira e as linhas de produção.
Entretanto, não se pode ignorar que persistem desafios estruturais que comprometem a competitividade.
A precária infraestrutura logística, especialmente em Santa Catarina, é um entrave recorrente.
Rodovias envelhecidas, congestionadas e sem manutenção adequada, projetos ferroviários que permanecem apenas no campo retórico e a limitação de portos e aeroportos em acompanhar o crescimento da produção tornam o transporte mais caro e menos eficiente.
Essa realidade drena parte dos ganhos conquistados em sanidade e eficiência industrial.
Soma-se a isso uma das cargas tributárias mais elevadas do mundo, que restringe investimentos e onera a produção, colocando o País em desvantagem diante de concorrentes que avançam na simplificação fiscal e regulatória.
Outro ponto sensível é a formação e retenção de mão de obra qualificada.
A expansão e a modernização dos parques fabris exigem trabalhadores preparados para lidar com tecnologias avançadas e processos industriais cada vez mais sofisticados.
Investir em capacitação técnica e em inovação é condição indispensável para sustentar a competitividade e agregar valor ao produto brasileiro.
Não obstante tais dificuldades, o setor de proteína animal brasileiro tem respondido com resiliência.
A capacidade de adaptação e superação é comprovada por vitórias expressivas na abertura e consolidação de mercados.
Mostramos competência e robustez para enfrentar barreiras fitossanitárias, exigências de qualidade e oscilações políticas.
Mas é preciso cautela: não se pode depender apenas da eficiência do setor privado.
Sem avanços na agenda de infraestrutura, tributação e desburocratização corre-se o risco de retroceder e perder espaço para países que, com reformas consistentes, já colhem resultados concretos.
As entidades representativas, entre elas o Sindicarne/SC, têm atuado de forma incansável na defesa de condições mais justas de competição, conscientes de que a luta por mercados internacionais não se vence apenas nos frigoríficos ou nas granjas, mas também nos corredores políticos e diplomáticos.
Os êxitos até aqui alcançados demonstram a força da produção catarinense e brasileira, mas a permanência nesse patamar de excelência dependerá da coragem de enfrentar os gargalos estruturais e da visão estratégica de preparar o setor para os desafios que se anunciam.
*Por José Antônio Ribas Júnior – Presidente do Sindicato das Indústrias de Carne e Derivados em Santa Catarina (SINDICARNE).