Mudanças em curso no cenário internacional preparam o terreno para transformações no agronegócio, com impactos significativos no Brasil.
Além do adiamento da entrada em vigor da lei antidesmatamento pela União Europeia, as discussões da COP29, no Azerbaijão, e a eleição de Donald Trump para a Presidência Americana, por exemplo, são alguns dos fatores relevantes na visão de especialistas.
No último dia 14 de novembro, o parlamento europeu decidiu postergar por um ano a aplicação da lei antidesmatamento, que prevê restrições para a compra de produtos cultivados em áreas desmatadas após 31 de dezembro de 2020. A decisão veio após pressões de vários países, que justificaram precisar de mais tempo para fazer adequações, como é o caso do Brasil.
A lei, que faz parte do Green Deal, o pacto ambiental europeu, passaria a valer após 31 de dezembro deste ano, mas a previsão agora é para janeiro de 2026.
Mas o adiamento não foi visto como tão favorável ao Brasil, já que os europeus acrescentaram, à lei, uma nova classificação de risco. Antes, os países seriam segmentados como de alto, médio e baixo riscos. O novo texto acrescenta o risco nulo. Para a Confederação Nacional de Agricultura e Pecuária (CNA), as medidas vão favorecer países que já fizeram sua expansão agrícola, com prejuízos ao Brasil.
As sanções vão incidir em sete cadeias produtivas desenvolvidas no nosso país: soja, café, carne bovina e couro, óleo de palma, cacau, madeira e borracha. A confederação deve conversar com os setores envolvidos para entender as dores de cada um e discutir como minimizar os efeitos das normativas.
Trump
A eleição do republicano Donald Trump para a Presidência dos Estados Unidos também acende um sinal amarelo no campo brasileiro. Entidades e estudiosos do agro temem que o Tio Sam adote a postura negacionista de Trump sobre as mudanças climáticas no planeta, que prioriza os combustíveis fósseis em detrimento de energias renováveis.
Também há uma preocupação sobre como será a política com a China. Se Trump cumprir a promessa de aumentar as tarifas de importação de produtos chineses, há risco de inflação nos Estados Unidos, de alta no dólar e, com isso, deve haver impacto na política econômica brasileira.
Outro ponto que gera expectativa é quanto à possibilidade de o novo presidente norte-americano adotar uma política extremamente protecionista, o que pode alterar o fluxo do comércio mundial, incluindo-se aí os produtos exportados pelo Brasil.
COP29
Enquanto o Brasil se prepara para receber a COP30 em 2025, que será realizada em Belém-PA, empresários do país participam da COP29 – Confederação das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas 2024 -, que vai até 22 de novembro em Baku, no Azerbaijão.
Um dos temas em pauta é a pecuária. Liège Correia, diretora de Sustentabilidade da JBS Brasil, foi uma das debatedoras do painel “Produção Pecuária Sustentável no Cone Sul Americano”, no último sábado (16), que abordou ações perenes para o desenvolvimento do campo, além da qualidade dos produtos e serviços oferecidos ao consumidor final.
Como exemplo da contribuição da pecuária, ela mencionou a produção de etanol de milho, em que o boi tem a capacidade de absorver coprodutos desse processo, com o DDG (Dried Distillers Grains) – resíduo das destilarias. Por isso, torna-se cada vez mais fundamental debater o papel biológico do animal nos sistemas alimentares.
Para Liège, o setor privado tem avançado nos últimos anos ao perceber o enorme potencial do Brasil na recuperação de pastagens. “Se levarmos em consideração as áreas degradadas que o país pode recuperar para a produção de alimentos, o que também inclui grãos, o potencial do Brasil é gigantesco”.
Segundo ela, para elevar o nível de eficiência no campo, é necessário levar o produtor rural para o centro das discussões. “Muitas vezes, a gente acaba falando em nome deles, mas não temos o componente do produtor que vai implementar isso com ciência. Por isso, é preciso integrá-los no dia a dia”.
Em relação ao trabalho desenvolvido pelas indústrias brasileiras do setor para equilibrar padrões de qualidade e consistência na entrega de produtos com a adoção de práticas sustentáveis, a diretora defendeu que é fundamental que os dois pontos sejam combinados. “Temos trabalhado incansavelmente para entregar o que o consumidor espera, que é a máxima qualidade dos produtos. Tudo isso com a sustentabilidade necessária para que possamos alcançar as metas climáticas definidas”.
Por fim, destacou que, além de estimular a ciência, é preciso que as informações sobre a importância da produção tropical cheguem a todos. Lembrou que o Brasil tem capacidade de fazer na mesma área até três safras por ano. Por exemplo: um mesmo produtor pode plantar milho e soja, depois plantar batata e capim, e o boi fazer o papel de colher o pasto plantado como agricultura, que é como as pastagens devem ser consideradas.