O cânhamo industrial, derivado da cannabis sativa, se diferencia por conter baixíssimo teor de THC, substância psicoativa da planta.
Essa característica torna seu cultivo voltado a fins produtivos e sustentáveis, com aplicações que vão da produção de fibras têxteis e bioplásticos à alimentação animal e cosméticos naturais.
Estimativas recentes apontam que o cultivo comercial de cannabis industrial pode gerar em torno de 14 mil empregos e até R$ 5,76 bilhões de receita líquida até 2030, se regulamentado e implantado de forma estruturada.
Os dados foram revelados pelo Relatório Caminhos Regulatórios para o Cânhamo no Brasil, feito por um grupo de trabalho liderado pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e o Instituto Ficus.
Segundo a pesquisa, o Brasil pode ter cerca de 64,1 mil hectares plantados com cânhamo industrial em até cinco anos.
Desse total, as sementes teriam potencial para movimentar R$ 2,3 bilhões, enquanto o caule/fibra da planta, aplicável nos setores têxtil, papel e construção civil, pode chegar a R$ 3,2 bilhões.
Além disso, um estudo da consultoria Kaya Mind revela que o cultivo de cannabis para flores (destinadas à extração de canabidiol – CBD) pode entregar um retorno líquido por hectare de cerca de R$ 23.306,80, ou seja, até 11 vezes mais que o lucro médio da soja (aproximadamente R$ 2.053/ha) no Brasil.
Desafios e atrasos
Contudo, o grande entrave para que o Brasil colha os frutos desse “novo agronegócio” está na regulamentação. Hoje, o cultivo da cannabis industrial ainda depende de normas específicas.
A legislação atual, em vigor desde 1998 por meio de uma portaria da Anvisa, ainda restringe o plantio de cannabis no Brasil, travando o desenvolvimento completo da cadeia produtiva.
Clenio Pillon, diretor de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa, ressaltou que, desde os anos 1970, a Embrapa atua para consolidar várias cadeias produtivas.
No caso da cadeia do cânhamo, segundo ele, há espaço para avançar na genética para as condições de produção brasileiras, nos sistemas de produção, em usos industriais e na área de saúde. No entanto, a legislação atual impede a realização de pesquisas sobre o assunto.
“A missão da Embrapa é fazer pesquisa e, hoje, há um conjunto de regramentos que não permite à Embrapa e outras instituições realizar sua missão, que é fazer pesquisa”, ressaltou.
O relatório da Embrapa prevê o início de projetos-piloto a partir de março de 2026, cultivo comercial em maior escala a partir de 2027, e exportações de matéria-prima já em 2028.
Para produtores, cooperativas e investidores do agronegócio, o cenário abre uma nova frente de negócio: a possibilidade de incorporar o cultivo de cannabis industrial (“cânhamo”) à rotação de culturas, utilizando maquinário já existente em parte, e ganhando escala em culturas de alto valor agregado.
Mas para isso será necessário atender às exigências técnicas, de qualificação da planta (baixo teor de THC para cânhamo), de processamento (têxteis, alimentos, construção) e de certificação/regulação.


















