Especialistas do agro analisam o tarifaço e reforçam a importância da diplomacia e da busca por novos mercados para preservar a força do Brasil no comércio global.
O Agro World Fórum 2025 iniciou os debates com o tema “O tarifaço e o Brasil: impactos na economia, cadeia produtiva e comércio exterior”, com o objetivo de frisar todos os desdobramentos que geram na hierarquia de todo o setor.
Em seu primeiro painel, reuniu especialistas e decisores do agronegócio, que fizeram ricas contribuições acerca de um desafio extremamente atual. O evento foi realizado na última terça-feira, 21 de outubro, no Hotel JP em Ribeirão Preto (SP).
O responsável pela moderação foi André Ricardo Passos de Souza, sócio-fundador do Passos e Sticca Advogados Associados, o PSAA, professor na Fundação Getúlio Vargas, FGV e na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, ESALQ. Também subiram ao palco:
- Marcos Antonio Matos, diretor-geral do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé).
- João Pedro Cury, CEO do Grupo Santa Clara Agrociência.
- Evandro Grilli, diretor executivo e sócio da Brasil Salomão Advocacia.
- Gino Paulucci Junior, presidente do Conselho de Administração da ABIMAQ/SINDIMAQ.
- Sérgio Bortolozzo, presidente da Sociedade Rural Brasileira (SRB).
- Mário Antônio Biral, superintendente do SENAR-SP, representando também a FAESP.
André abriu o debate reiterando a importância do tema e seu caráter desafiador. No entanto, manteve um tom otimista. Para isso, recuperou a ideia do discurso de Antônio Duarte Nogueira, ex-prefeito de Ribeirão Preto, que o antecedeu realizando um breve discurso na abertura do evento. Nele, afirmou que o tarifaço vai passar, e que não há muita racionalidade no aspecto das boas relações de comércio internacional.

Então, o moderador seguiu a condução do painel pedindo para que os participantes contribuíssem com seus insights, baseados em suas áreas de atuação. Também lembrou que Sérgio Bortolozzo, presidente da Sociedade Rural Brasileira (SRB), publica artigos com ideias relevantes para o campo, e, portanto, já teria uma ideia de seu posicionamento acerca da questão.
Em seguida, a fala de Sérgio começa reconhecendo o momento de tensão e reverenciando os produtores. “Ser agricultor na verdade não é uma opção, é uma vocação”. Além disso, cita a expansão do mercado brasileiro do café e de energia.

Quanto ao tarifaço, acredita que foi um equívoco e que possa ser justificado como uma estratégia de governo. No entanto, lembra que o Brasil e os Estados Unidos possuem uma relação de 200 anos que não será tão facilmente abalada frente aos últimos acontecimentos. Por fim, reforçou que o Brasil continuará forte em segurança alimentar.
Dando seguimento, André se dirigiu a Evandro Grilli, com o questionamento: “[o tarifaço] tem fundamento ou tem uma conotação meramente política?”.
O Diretor Executivo da Brasil Salomão Advocacia respondeu inicialmente que “não é o direito que irá ajudar nesse momento” e que a instituição que deveria garantir os direitos dos envolvidos, a OMC, neste momento está esvaziada. Porém, responde à pergunta com ênfase: “Do ponto de vista jurídico, não há fundamento para o tarifaço”. Segundo ele, trata-se de uma guerra comercial.

Grilli explana que entidades empresariais e alguns estados americanos pressionam o governo, movendo ações contra o tarifaço no U.S. Trade, mas que é improvável que a Suprema Corte decida em desfavor ao Trump. Portanto, afirma: “Temos direitos, mas não temos como fazer acontecer”.
Em contrapartida, salienta outras alianças que o Brasil tem feito, como com o Canadá, e o papel da China em meio a essa movimentação. Em vista disso, Evandro revela que na Brasil Salomão, enquanto advogados de entidades afetadas, a orientação dada é a exploração desses outros mercados.
Depois de Evandro, Mário Antônio Biral, superintendente do SENAR-SP, contribui para a discussão dizendo que Trump foi precipitado e que não haveria razão para essa taxação. Em paralelo, afirma que a China já está presente em negociações junto ao Agro, e que o país irá fazer investimentos bilionários no setor brasileiro, entre máquinas e equipamentos e segurança alimentar.

Logo após, Marcos Antônio Matos, diretor-geral do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé) trouxe um panorama sobre a exportação do café, mercado que foi um dos mais prejudicados pela decisão de Trump. Nesse sentido, afirma que o Brasil é o maior produtor, maior exportador e segundo maior consumidor de café no mundo.
Os Estados Unidos, por sua vez, são o maior consumidor global de café e eram o principal importador do produto brasileiro. A frente da Cecafé, Matos observa que essa situação mudou a partir do decreto, pois o país norte-americano passou a ocupar o terceiro lugar no ranking de exportação.

Além disso, Matos destaca o trabalho que tem conduzido internacional e nacionalmente, pressionando os governos americano e brasileiro: “Nós temos que resolver essa questão das tarifas, porque ano que vem os modelos meteorológicos indicam uma safra melhor tanto pro Brasil quanto pro mundo todo”, disse.
Fechando a rodada, Gino Paulucci Junior, presidente do Conselho de Administração da ABIMAQ/SINDIMAQ, responde ao questionamento do moderador a respeito do setor de máquinas e os efeitos imediatos do tarifaço.
“A crise vai passar, tarifaço vai passar? Vai. Mas nesses outros 18% que exportam para os Estados Unidos tem muita gente que exporta 100% da sua produção […] esses vão deixar de existir. Se quando você vende terra, não compra mais, se você fechou a indústria, esquece. Toda tecnologia é perdida, então é um problema muito sério para nós que produzimos máquinas”, opina.

Ademais, acrescentou que “A agropecuária é o setor que vai ser menos afetado pelo tarifaço, porque diferentemente do meu setor ser concorrente dele (EUA), ele não tem quantidade suficiente do que nós produzimos”.
Segundo ele, “Não tem saída que não seja pela diplomacia”. Gino ainda brincou “não se preocupem com tarifaço, salvo se produzem máquinas”, concluindo sua explanação.
Por fim, o painel foi encerrado com últimas impressões de cada um dos convidados. Evandro Grilli comente ou que “A solução não virá pela via jurídica, mas é importante fazer uma análise jurídica, porque decisões são tomadas baseando-se muitas vezes no direito e o direito é uma ciência que não é exata. Então, a compreensão e a aplicação dela leva em conta até a validação de uma solução diplomática. E eu acredito muito na 301 que não vai mostrar tudo que estão dizendo sobre nós”.

Marcos Antônio Matos sucedeu, com os dizeres: “A questão aqui é a gente trabalhar em unidade, porque o mundo passa por um tempo político já complexo. Nós temos que saber como navegar nesse ambiente sem regras definidas, sem ambientes em que você questiona as razões. E lembrar sempre, acordo bilateral é via de mão dupla, o Brasil não vai agregar valor se não tiver conexões com o mundo seja com o Mercosul ou individualmente”. “Esse é o futuro do agronegócio mais brilhante, mais conectado com o mundo”, finalizou.
Dando sequência, Gino Paulucci se vira ao nosso país, saudando a potência que o Brasi possui no mercado: “A agricultura foi o setor que mais deslanchou nesses últimos anos, graças às máquinas. Eu acredito no Brasil, acreditem no Brasil, vendam o Brasil.”.
Otimista, Ségio Bortolozzo também opinou. “O que nós não podemos é ficarmos abalados com o que tá acontecendo, porque eu acho que como nós temos a possibilidade de ser protagonistas na segurança alimentar do globo, esse é o fato que nos prende. Você ser competidor dos Estados Unidos da América, sabe a dificuldade que é. E nós somos no milho, somos na soja, somos na carne, no algodão e tudo. Nós estamos hoje medindo espaço, e eles entendem que nós somos uma ameaça. Tudo isso vai passar, toda essa turbulência vai passar, e nós vamos continuar produzindo”.
Mário Antônio Biral saudou o debate: “É uma mesa muito capaz, é um público muito capaz. E eu endosso o que aqui foi falado.”, concluindo o primeiro painel do Agro World Fórum 2025.


















