O desenvolvimento de novas tecnologias é um dos fatores primordiais para uma expansão cada vez mais sustentável do agronegócio brasileiro.
Tanto por parte das grandes companhias, que demonstram o protagonismo do Brasil na disponibilização de novidades no mercado, quanto por programas que visam transferir os avanços para pequenos produtores.
Um exemplo recente é o da Syngenta, que escolheu sua unidade produtiva em Paulínia-SP para receber o primeiro Centro de Tecnologia e Engenharia de Produtos (PT&E) da empresa na América Latina.
A partir de um investimento de R$ 65 milhões, a instalação foi construída próxima a aeroportos, universidades e outras unidades da companhia. O espaço foi idealizado para ser um núcleo de pesquisa e inovação, com o intuito, segundo a empresa, de contribuir para obtenção de maior produtividade com menor impacto, regeneração do solo, aumento da prosperidade rural, entre outras operações.
De acordo com Rodrigo Marques, diretor de Engenharia e Tecnologia de Produtos da Syngenta, o Brasil pode e deve liderar a agenda de inovações no setor agrícola para minimizar os impactos negativos causados pelas mudanças do clima.
“A agricultura brasileira já é líder mundial em práticas agrícolas sustentáveis, mas precisamos seguir cooperando com ideias e propostas efetivas de adaptação. A implementação do Centro de Tecnologia e Engenharia de Produtos no Brasil – projeto inédito na América Latina – passa a ser fundamental para a estratégia da Syngenta, de unir tecnologia, inovação e ciência com foco no desenvolvimento de soluções que enderecem as necessidades atuais e futuras
Prêmio de tecnologia
Fomentar inovações tecnológicas para o agro também é um dos objetivos do Prêmio Fundação Bunge, que, em sua última edição, reconheceu quatro pesquisadores brasileiros por trabalhos que impactam diretamente na alimentação, na saúde e no meio ambiente da população, e que reforçam o papel da pesquisa para atender demandas do campo.
Durval Dourado Neto, Professor Titular da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (ESALQ/USP), venceu na categoria Vida e Obra, com o tema “Desenvolvimento e uso de tecnologias e conectividade acessíveis para a sustentabilidade no campo”. Sua experiência envolve o uso de tecnologia para otimizar práticas agrícolas que promovam a sustentabilidade no campo.
Na mesma categoria, Elisabete Aparecida de Nadai Fernandes, professora da Universidade de São Paulo, responsável pelo Laboratório de Radioisótopos do Centro de Energia Nuclear na Agricultura (CENA/USP), foi lembrada. Responsável por analisar amostras de alimentos após o acidente nuclear de Chernobyl, Ucrânia, ela explicou que a mesma técnica começou a ser utilizada para determinar a composição química nas amostras. Com isso, surgiu um grande projeto de rastreabilidade da carne bovina.
A pesquisadora Larissa Pereira Ribeiro Teodoro, professora da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), ganhou na categoria Juventude. Ela lidera projetos de pesquisa em fenotipagem de alta precisão e machine learning para aprimorar a produção de soja e milho no Cerrado.
Também nessa categoria, Hiago Henrique Rocha Zanetoni, professor da Universidade Federal de Rondonópolis (UFR), recebeu um dos prêmios. Ele é especialista em rastreabilidade agroalimentar com uso de blockchain, que tecnologia possibilita, por exemplo, identificar o histórico de um item desde o início da produção até o consumidor final.
Foco regional
Além de tecnologias que podem ser aplicadas em culturas de abrangência nacional, há outras em desenvolvimento para atender demandas específicas. No Mato Grosso, por exemplo, que, segundo o Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA), responde por quase R$ 175 bilhões dos R$ 830 bilhões da produção agrícola brasileira em 2023, há a necessidade de muitas pesquisas e adaptações para que produtor local obtenha sucesso no cultivo. Mudanças climáticas e solos com déficits de cálcio, magnésio e outros elementos, impactam diretamente na produtividade e na qualidade do grão.
Outro fator a ser considerado é a extensão do estado, que corresponde a 10,5% do Brasil, com mais de 900 mil quilômetros de área, sendo 62% preservados, o que requer um olhar diferenciado para soluções que sejam adaptadas a essa realidade.
“Por ser um estado extenso, muitos produtores que residem em municípios distantes da capital e fora de grandes centros sentem dificuldade de acessar todos os recursos voltados para o agro”, comenta Rodrigo Pasqualli, diretor da Fundação Rio Verde.
A presença da pesquisa da fundação foi responsável por viabilizar o cultivo de milho em segunda safra, permitindo estabelecer um calendário para plantio, técnicas de cultivo, adubação, entre outras etapas. Isso é considerável porque o milho do estado representa 35% da produção brasileira e 3% da produção global, conforme dados divulgados pelo Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (IMEA). “Com isso, avanços nesse cultivo teve reflexos diretos da linha de trabalho de nossa instituição com impacto imediato no produtor local”, conclui Rodrigo.