Uma pesquisa realizada pela Mordor Intelligence apontou que o mercado global de drones agrícolas deve alcançar a marca de US$ 4,36 bilhões (R$ 23,11 bilhões) até 2029, mais do que o dobro do valor estimado para 2024, que gira em torno de US$ 2,08 bilhões (R$ 11,02 bilhões).
Para Rogério Neves, CEO da CPE Tecnologia, empresa que atua no mercado de soluções para geotecnologia, essa projeção demonstra a importância que os drones ganharam ao longo dos anos.
“Conforme o tempo passa, mais digital o mercado fica, independentemente da área. Com isso, podemos ver o quanto algumas tecnologias se tornaram fundamentais para exercermos nossas atividades e os drones são prova disso. Trata-se de um mercado que tende a expandir muito ainda devido ao grande número de atividades que demandam recursos que podem ser programados ou acoplados em drones”.
O executivo comenta ainda que um dos maiores benefícios é a redução de custos e a maior agilidade, precisão e eficiência que o uso de drones permite. “São extremamente versáteis. Por exemplo, sobrevoam grandes áreas para realizar o monitoramento de um terreno e, quando utilizados junto a recursos como lasers scanner, eles conseguem fazer leituras, coletar e analisar dados, agilizando processos e realizando funções que demandavam muito mais tempo para serem concluídas”.
Os reflexos do crescimento desse mercado já podem ser vistos no Brasil, afirma Neves, quando analisamos o número de drones agrícolas presentes no país. “Segundo dados do Sistema de Aeronaves Não Tripuladas (Sisant), órgão da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), temos 5.269 drones dessa categoria em operação. Um crescimento de 375% se comparado a 2022.
“Por conta desse cenário, fica evidente a necessidade de investimentos para a capacitação, seja por meio de cursos ou treinamentos, dos profissionais que utilizam essas ferramentas em suas atividades diárias. Dessa forma, eles poderão se manter atualizados quanto às novas tecnologias que chegarem em seus respectivos mercados”.
Subestimado
No entanto, segundo um levantamento promovido pelo Drone Show, um dos maiores eventos do país voltados a esse tipo de tecnologia, o número da Anac está abaixo da frota real usada no campo, que já seria de 12 mil equipamentos. Essa quantidade representaria 25% do potencial total do Brasil, que é de 50 mil drones agrícolas.
Um dos motivos para esse aumento, conforme Emerson Granemann, CEO da MundoGeo, que busca promover conexões e realizar eventos no mundo da tecnologia, o aumento se deve à mudança de comportamento dos produtores rurais.
Com a legislação da ANAC, que alterou a forma de uso, a expectativa era que houvesse um aumento das empresas de prestação de serviços de pulverização, mas os produtores também estão adquirindo equipamentos e capacitando suas equipes para operá-los.
Eles utilizam os drones de pulverização principalmente nas culturas de milho e soja, que juntas representam 50% das operações com drones no Brasil. Em seguida, vêm as pastagens, cana-de-açúcar e trigo. Os menores usos são com arroz, café, limão, banana e algodão.
Melhoramento genético
A TMG, empresa que investe em melhoramento genético, é uma das que têm incorporado a utilização de drones nas suas operações. Eles permitem, por meio do processamento de imagens, a identificação de características fenômicas ao longo de diferentes fases dos programas.
Segundo Rafael Zeni, gerente de pesquisa na companhia, “isso contribui para uma maior assertividade nos processos de avanço e caracterização de novas linhagens”.
Zeni comenta ainda que “os drones auxiliam também nas operações de pulverização dos experimentos com precisão georreferenciada, sem causar a compactação do solo por movimentação terrestre, o que permite o melhor desenvolvimento das plantas e ainda reduz a exposição humana com produtos como inseticidas, fungicidas e herbicidas”.
O especialista diz que a TMG está investindo também em testes com robôs autônomos capazes de registrar e apontar características importantes para os estudos de fenômica. “Esses robôs irão acompanhar o crescimento das plantas no campo, o que deve ampliar ainda mais a agilidade na coleta e processamento de imagens e dados importantes para a tomada de decisão no melhoramento genético”.
Zeni conta que a companhia está avançando no uso da tecnologia de fenotipagem de alto rendimento para captar informações além do alcance do olhar humano.
“Atualmente, estamos construindo parcerias com fornecedores que fazem uso de câmeras multiespectrais e desenvolvem algoritmos que podem revelar informações imperceptíveis aos nossos olhos. Essas características podem, inclusive, estar diretamente ligadas à produtividade, o que nos permite vislumbrar um futuro com identificação antecipada de cultivares com teto de produção cada vez mais elevado. Podemos também aprimorar nosso entendimento das necessidades específicas de cada produto, considerando as variações edafoclimáticas e a interação genótipo/ambiente”.